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Pericardite: que é, sintomas, diagnóstico e tratamento

Pericardite é uma inflamação que ocorre no pericárdio. O pericárdio é uma membrana que reveste o coração, proporcionando proteção e sustentação ao órgão. O pericárdio consiste em uma membrana dupla, possuindo uma camada externa, que é chamada de pericárdio fibroso, e uma camada interna, chamada de pericárdio seroso.

É o pericárdio o responsável por manter o coração dentro da cavidade torácica na posição correta, e manter o líquido pericárdico no nível adequado para o bom funcionamento do coração. Essa mesma membrana protege o coração de infecções, criando uma barreira física no local.

Causa da pericardite

A pericardite pode ser facilmente confundida com outras enfermidades, já que suas causas são as mais diversas, podendo também gerar variedade de sintomas no paciente. Podemos dividir a condição em pericardite aguda primária e pericardite aguda secundária.

Uma pericardite primária pode ser causada por uma infecção viral, de forma que os primeiros sintomas costumam surgir entre uma e três semanas após uma infecção nas vias aéreas que pode ser causada pelos mais variados vírus, tais como: Influenza A e B, adenovírus, vírus da caxumba, herpes simplex, vírus da imunodeficiência humana (HIV), vírus coxsackie B, vírus da varicela-zoster, citomegalovírus, vírus das hepatites A, B ou C, vírus sincicial respiratório e vírus do sarampo.

Também há autores da literatura médica que defendem que a pericardite aguda primária pode não ter uma causa específica, sendo considerado um problema idiopático. Tanto para causas idiopáticas, quanto para causas específicas, a abordagem clínica no tratamento será a mesma.

O segundo tipo de pericardite aguda é mais grave e repleto de possibilidades de causas, sendo elas: trauma toráxico, tuberculose, pacientes expostos a radiação no tórax, infecções bacterianas, metástases, infarto agudo do miocárdio, insuficiência renal e o uso de algumas terapias medicamentosas, tais como trombolíticos, anticoagulantes, procainamida, fenitoína, hidralazina, entre outros.

Sintomas de pericardite

A maioria dos pacientes relatam como primeiro sintoma uma dor torácica semelhante a uma pontada, e que piora com o passar do tempo durante as inspirações e ao deitar-se. Ficar sentado com o corpo inclinado pode trazer alívio ao paciente. Também há relatos de casos em que a pessoa sente febre, palpitações, muito cansaço e mal-estar. Podem ocorrer outros sintomas diferentes, especialmente quando a pericardite está relacionada com condições mais graves.

Os diagnósticos mais distintos de sintomas de pericardite são: embolia pulmonar, pneumonia, infarto agudo do miocárdio e dissecção da aorta. Os sintomas podem variar de acordo com a causa subjacente.

Vale destacar que os sintomas da pericardite aguda costumam durar poucos dias, enquanto a condição crônica pode acometer o paciente por meses ou surgir com frequência. O ideal é procurar um médico assim que tiver qualquer sintoma anormal, sobretudo quando se trata de dores no peito. O diagnóstico precoce pode salvar vidas e evitar tratamentos longos e, muitas vezes, contínuos.

A pericardite crônica pode não apresentar sintomas em alguns casos, pois costuma manifestar reações quando já há grande acúmulo de líquido no pericárdio. Por isso a importância de se procurar auxílio médico com a mínima anormalidade na região do tórax ou de tratar corretamente enfermidades já conhecidas pelo paciente e que pode desencadear complicações.

Complicações da pericardite

Se não tratada adequadamente ou em casos evoluídos, a pericardite pode evoluir para condições mais graves, como um derrame pericárdico, que ocorre quando há uma acúmulo de líquidos entre os folhetos visceral e parietal. Em situações ainda mais graves, esse acúmulo de líquido pode levar o coração a não conseguir relaxar, gerando um enchimento das câmaras cardíacas, levando ao tamponamento cardíaco, que é um colapso hemodinâmico. Se não tratada o mais rápido possível, essa condição pode levar o paciente a perder a vida.

Outra possibilidade de complicação é a pericardite crônica constritiva. Neste caso ocorre um processo inflamatório crônico que gera a perda de calcificação e elasticidade do pericárdio, o que prejudica o relaxamento do coração e o seu enchimento. A pericardite constritiva pode levar o paciente a adquirir insuficiência cardíaca. Uma cirurgia de decorticação pericárdica poderá ser indicada em alguns casos, mas há alto risco de mortalidade do paciente ou de resultados indesejados.

Diagnóstico

Primeiramente o médico realizará um exame físico e o analisará juntamente com o histórico clínico do paciente. Em alguns casos, o exame físico já basta para o médico ter uma hipótese diagnóstica de pericardite, como é o caso do atrito pericárdico auscultado pelo estetoscópio.

Há duas reações ao exame clínico que podem ser cruciais para o médico chegar à conclusão de sua suspeita clínica, sendo elas:

  • Durante a ausculta dos batimentos cardíacos, o médico ouve um som mais abafado, que é provocado pelo acúmulo de líquido dentro do saco pericárdico; ou ainda uma espécie de ruído de fricção, por isso chamado de atrito pericárdico, que indica que as membranas do pericárdio já estão inflamadas e encostando umas nas outras.
  • O médico especialista também pode solicitar exames complementares para ter certeza do diagnóstico, sobretudo quando não há o atrito pericárdico auscultado pelo estetoscópio no exame físico. Esses exames são: ecocardiograma, eletrocardiograma, radiografia do tórax, ressonância nuclear magnética do coração, pericardioscopia com biópsia e coleta do líquido pericárdico, e exames laboratoriais diversos, como exames de sangue.

Tratamento

O tratamento sempre vai depender de sua causa subjacente. O tratamento da pericardite aguda primária é feito através do uso de anti-inflamatório, antitérmicos, analgésicos e terapia medicamentosa antifúngica. Se não se obter resultado positivo com essa abordagem, o médico poderá receitar corticosteróides. Se a pericardite aguda secundária for causada por uma infecção bacteriana, antibióticos poderão ser receitados, bem como diuréticos.

Se a causa da pericardite for conhecida, trata-se primeiro da doença que deu origem ao problema. Na maioria dos casos não é necessário internação, salvo se o paciente pertencer ao grupo de risco. São considerados fatores de risco pessoas acometidas com doenças debilitantes, como neoplasias, insuficiência renal e problemas cardíacos.

O anti-inflamatório colchicina poderá ser administrado em pacientes não alérgicos e que não possuam impedimentos clínicos para essa droga, que costuma diminuir o tempo de internação de pacientes mais graves. Se tratada precocemente e de forma adequada, a pericardite considerada leve tem cura. As formas mais graves são tratadas conforme sua causa subjacente.

Dr. Ricardo Contesini

Médico cardiologista esportivo, especialista em cardiologia do esporte. Pós graduado em medicina esportiva pela Universidade Federal de São Paulo.

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